Pe Adilson Luiz Umbelino Couto
Jesus Cristo, o Verbo encarnado, deixou-nos o exemplo para comunicar com o Pai e com os homens, quer vivendo momentos de silêncio e de recolhimento, quer pregando em todos os lugares e com as várias linguagens possíveis. Ele explica as Escrituras (é o exegeta do Pai – Jo 1,18), exprime-se em parábolas, dialoga na intimidade das casas, fala nas praças, ao longo dos caminhos, nas margens do lago, nos cimos dos montes. O encontro pessoal com Ele não deixa ninguém indiferente, mas estimula a imitá-lo: “O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido, proclamai-o sobre os telhados” (Mt 10, 27). No segredo do nosso coração, escutamos a verdade de Jesus; agora, devemos proclamar essa verdade de cima dos telhados.
No início do novo milênio, após o ano da celebração do grande jubileu do Cristianismo, o papa São João Paulo II dirigiu esta mensagem a toda a Igreja por ocasião do 35º dia mundial das comunicações sociais: “Anunciai-o de cima dos telhados” – o Evangelho na era da comunicação global. Esta mensagem estava profundamente marcada pela experiência jubilar. O Ano Santo da Encarnação constituiu um marco muito importante na vida de milhões de cristãos. Esta experiência, que é de entusiasmo e alegria, segue-se propondo mais uma vez o convite à Igreja para anunciar o grande mistério da fé: Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre (Hb 13,8). No próximo domingo, dia 16 de maio de 2021, celebramos o 55º dia mundial das comunicações sociais. E hoje, em meio à pandemia, aquela mensagem do início do novo milênio, torna-se ainda mais atual. Neste ano, o tema escolhido pelo Papa Francisco é Vem e vede” (Jo 1,46). Comunicar encontrando as pessoas como e onde estão.
“Vinde ver”. Essas palavras do apóstolo Filipe são centrais no Evangelho: o anúncio cristão, ao invés de palavras, é feito de olhares, testemunhos, experiências, encontros e proximidade. Em uma palavra, vida. Na mudança de época que estamos vivendo, num tempo que nos obriga à distância social por causa da pandemia, a comunicação pode tornar possível a proximidade necessária para reconhecer o que é essencial e compreender realmente o significado das coisas.
Não conhecemos a verdade se não fazemos experiência, se não encontramos as pessoas, se não participamos de suas alegrias e tristezas. O velho ditado “Deus encontra você onde você está” pode ser um guia para aqueles que trabalham na mídia ou na comunicação na Igreja. No chamado dos primeiros discípulos, com Jesus que vai ao seu encontro e os convida a segui-lo, vemos também o convite para usar todos os meios de comunicação, em todas as suas formas, para alcançar as pessoas como são e onde vivem.
A imagem dos “telhados” varia muito, segundo a arquitetura de cada região cultural, mas precisamente hoje, na era da comunicação global, é cada vez mais frequente ver por todo o planeta os tetos das casas povoados de antenas: isto se vê desde o topo dos grandes prédios até as simples casas e cabanas do interior do sertão. Estamos diante de uma “floresta de transmissores e de antenas que enviam e recebem mensagens de todos os tipos, para e dos quatro cantos da terra”. No meio de tudo isto, é preciso, diz a mensagem, “que a Palavra de Deus seja escutada. Proclamar hoje a fé de cima dos telhados significa anunciar a palavra de Jesus no e através do mundo dinâmico das comunicações sociais (…) que atingem um auditório global (…) [e considerar] as capacidades positivas da internet de transmitir informações religiosas e ensinamentos para além de todas as barreiras e fronteiras”.
Vemos a Internet como meio de evangelização, trazendo também, evidentemente, os seus desafios. O chamado ciberespaço é o areópago atual, onde os cristãos são chamados a marcar presença, procurando conhecer a sua linguagem, suas articulações e estruturas, a fim de não se deixar contaminar pelos frutos anti-éticos que estão presentes no mundo da web. Percebe-se, portanto, que não se pode negar a capacidade da Internet de comunicar informação religiosa e cristã. Fica questionável a sua condição de instrumento de evangelização quando o internauta “cristão” não passa da tela do computador para o engajamento histórico – na comunidade cristã e na sociedade; neste caso, ter-se-ia transformado em adorador de um ídolo sem força de salvação.
A exortação pontifícia fala forte que os cristãos e cristãs não podem ignorar o mundo das comunicações sociais, pois os MCS de todos os tipos podem desempenhar um papel essencial na evangelização direta e na transmissão aos povos das verdades e dos valores que salvaguardam e enobrecem a dignidade humana. A presença da Igreja nos MCS é efetivamente um importante aspecto da inculturação do Evangelho, exigida pela nova evangelização, para a qual o Espírito Santo exorta a Igreja no mundo inteiro. Verificamos, que desde o seu nascimento, o Cristianismo está às voltas com a comunicação. O Mestre Jesus apresentou-se como comunicador do Pai e seus discípulos espalharam-se pelo mundo para proclamar o Evangelho do Reino de Deus, pois a narrativa evangélica está toda calcada na figura do Jesus-comunicador. Deste modo, fazendo nosso, de certa forma, o pedido dos discípulos “ensina-nos a orar” (Lc 11,1), podemos pedir ao Senhor que nos guie para compreendermos a comunicar com Deus e com a humanidade através dos maravilhosos instrumentos da comunicação social.
Reconduzidos ao horizonte desta comunicação última e decisiva, sobretudo em tempos de isolamento social, os mass media revelam-se uma oportunidade providencial para alcançar as pessoas em todas as latitudes, superando barreiras de tempo, de espaço e de língua, formulando nas modalidades mais diversas os conteúdos da fé e oferecendo, a todos os que as procuram, metas seguras que permitam entrar em diálogo com o mistério de Deus plenamente revelado em Jesus Cristo.